“Todo mundo sabia do problema, e o ministro Rui sabe disso”: a denúncia explosiva do chefe da CGU sobre a fraude no INSS

O ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Carvalho, rompeu a cortina de silêncio que encobria o que todos já sabiam, mas fingiam ignorar. Em entrevista hoje (7) ao jornal O Globo, afirmou com todas as letras:

“todo mundo conhecia o problema do INSS, e o ministro Rui [Costa] sabe disso”.

Ministro da CGU, Vinicius Carvalho

Enquanto milhões de aposentados eram sistematicamente saqueados, a máquina pública orquestrava uma sinfonia de omissões calculadas. O que emerge dos bastidores não é apenas mais um capítulo da crônica da corrupção brasileira, mas a anatomia de um sistema que transformou a pilhagem em protocolo institucional. Entre os gabinetes climatizados de Brasília, órgãos fiscalizadores jogavam a responsabilidade uns para os outros numa dança ensaiada de incompetências convenientes, enquanto bancos privados e consultorias especializadas faturam bilhões com a engenharia da rapinagem previdenciária.

O Escândalo em Números: Como a Fraude no INSS se Espalhou

O escândalo, em sua dimensão numérica, é aterrador: descontos mensais e não autorizados na folha de pagamento de aposentados e pensionistas, supostamente para “serviços” de associações e sindicatos, desviaram cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a Polícia Federal e a CGU. Mais de 4 milhões de vítimas, a maioria alheia à existência dessas entidades, foram transformadas em fonte de recursos ilícitos.

O esquema, que ganhou tração a partir de acordos firmados entre 2021 e 2022 no governo Bolsonaro, explodiu em volume a partir de 2023, já sob o governo Lula — um salto de R$ 413 milhões em 2016 para R$ 2,8 bilhões em 2024, segundo dados oficiais. O operador central, conhecido como “Careca do INSS”, manipulava mais de 20 empresas para lavar esse dinheiro.

Impactos Ocultos: Incentivos, Omissões e a Lógica Econômica do Sistema

A análise fria e desapaixonada dos fatos mostra que nada disso foi fruto do acaso. O sistema de descontos em folha, criado com a aparente boa intenção de facilitar a vida dos aposentados, converteu-se em terreno fértil para fraudes justamente porque delegava a responsabilidade de fiscalização a uma máquina pública sobrecarregada e capturada por interesses privados. A CGU identificou indícios claros de envolvimento interno, sugerindo que o esquema só prosperou graças à conivência calculada.

A resposta institucional seguiu a lógica do menor custo político: empurrar o problema para debaixo do tapete, fragmentar responsabilidades e agir apenas quando o escândalo se tornasse insustentável. O próprio ministro Carvalho admitiu as três opções diante da crise: ignorar, adotar paliativos ou enfrentar o problema. Só a pressão pública forçou a escolha da última.

Por fim, a narrativa oficial que tenta atribuir ao governo Lula a iniciativa de “chamar a polícia” para desmontar a máfia sindical no esquema é uma cortina de fumaça. Alertas existiam desde o governo anterior, e a ação efetiva só veio após desgaste político e pressão popular. A acusação de seletividade na investigação, negada pela CGU, permanece como sombra que alimenta suspeitas sobre a continuidade dos mesmos incentivos políticos que permitiram a fraude.

Enquanto isso, o verdadeiro custo — social, econômico e moral — recai sobre os aposentados, os mais vulneráveis e silenciados nessa trama. O escândalo do INSS é, portanto, muito mais que corrupção: é o sintoma de um sistema onde incentivos institucionais, fragmentação de responsabilidades e cálculo político criam o terreno fértil para a perpetuação da fraude até que o custo de ignorá-la supere o da ação.

Se “todo mundo sabia”, como confessou o chefe da CGU, a pergunta que permanece é: quem, afinal, tinha algo a perder com a mudança? E quantos outros esquemas, igualmente nefastos, ainda jazem invisíveis sob a mesma lógica perversa de omissão coletiva?

A narrativa oficial de “combate à fraude” não resiste ao escrutínio dos fatos: por trás da retórica, incentivos perversos e racionalidade econômica distorcida sustentaram um esquema que fez da vulnerabilidade dos idosos sua principal commodity. O que se vende como falha do sistema revela-se, sob análise forense, como sua funcionalidade mais eficiente — um mecanismo lubrificado pela cumplicidade institucional e pela arquitetura regulatória que protege os predadores enquanto abandona as vítimas à própria sorte.