Dep federal Eduardo Velloso Viana (União-AC) retira assinatura do pedido de impeachment de Lula para salvar de cargo de sua irmã na Embratur

A decisão do deputado federal Eduardo Velloso Viana (União Brasil-AC) de retirar sua assinatura do pedido de impeachment do presidente Lula para preservar o cargo da irmã na Embratur reacende debates sobre o uso de cargos públicos como moeda de barganha política.

O caso, que combina tensão familiar, pressão governamental e estratégias partidárias, ilustra os mecanismos de poder em jogo no cenário político brasileiro.

O Voto que Virou Moeda de Troca

Eduardo Velloso assinou em 2024 o pedido de impeachment apresentado pelo deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), que acusa Lula de “pedaladas fiscais” no programa social Pé-de-Meia. O documento, com 130 assinaturas, precisa de 342 votos para avançar na Câmara.

Porém, após pressão do Planalto, o parlamentar recuou. O motivo? Sua irmã, Luciana Borges de Velloso Viana, ocupa desde maio de 2024 um cargo de confiança na Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), com salário de R$ 18.938,63.

Luciana Borges de Velloso Viana

A nomeação de Luciana ocorreu por indicação do ministro do Turismo, Celso Sabino, e foi justificada pela Embratur como “requisitos profissionais”. Ela integra um grupo de 23 funcionários em cargos estratégicos, vinculados a projetos como a COP30 e o Salão Nacional do Turismo. 

A ligação entre a posição política do deputado e a estabilidade profissional da irmã tornou-se pública após a retirada da assinatura, levantando questionamentos sobre sua ética e o uso de seu cargo para benefícios particulares.

O Jogo Político por Trás do Caso

O episódio reflete a complexidade das alianças no Congresso, onde cargos comissionados frequentemente servem como ferramentas de negociação. A Embratur, alvo de críticas por suposto nepotismo, emitiu nota destacando a “qualificação técnica” de Luciana, mas evitou comentar a relação entre a demissão potencial e a posição do irmão616.

O impeachment de Lula, por sua vez, enfrenta obstáculos práticos e simbólicos. Historicamente, processos do tipo no Brasil – como o de Dilma Rousseff em 2016 – geraram polarização e foram criticados por setores internacionais.

O Preço da Governabilidade

O recuo de Velloso ilustra a fragilidade da base governista. Com apenas 130 assinaturas, o impeachment ainda está longe dos 342 votos necessários, mas o caso expõe como o Planalto recorre a táticas de pressão para manter o controle. Para analistas, a estratégia pode garantir estabilidade no curto prazo, mas alimenta desconfiança na população, especialmente em um contexto de crise fiscal e polarização 710.

No cenário global, governos frequentemente negociam cargos para assegurar apoio, mas o desafio é equilibrar pragmatismo e integridade. Enquanto na Europa há maior rigidez na fiscalização de indicações, o Brasil ainda navega em águas turvas, onde a linha entre meritocracia e favorecimento é tênue.

Implicações para a Democracia e a Opinião Pública

A retirada da assinatura de Velloso expõe fissuras na governabilidade de Lula, que depende de apoios voláteis para manter agenda legislativa. Para especialistas, a troca de favores entre Executivo e Legislativo não é nova, mas ganha contornos dramáticos em um contexto de fragilidade econômica e desgaste de instituições.

Nas redes sociais, o tema viralizou com hashtags como #ImpeachmentNegociado e #EmbraturGate, dividindo opiniões. Enquanto apoiadores do governo celebram a “estratégia eficaz” para conter a oposição, críticos denunciam “chantagem política”.

Já a população, segundo pesquisas recentes, demonstra crescente desconfiança no governo Lula e em relação a acordos entre partidos.