Brasília, DF – 21 de dezembro de 2024 – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets enfrenta nova turbulência após a descoberta de que dois parentes do lobista Silvio Assis, investigado por suspeitas de extorsão a empresários do setor de apostas, ocupam cargos estratégicos no gabinete da relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS).
Os servidores comissionados da senadora
Silvia Barbosa de Assis, irmã do lobista, atua como Assistente Parlamentar desde 2023, com salário de R$ 7,2 mil mensais, além de auxílio refeição. Suas atribuições incluem monitoramento de redes sociais e serviços administrativos no gabinete da senadora.
David Vinícius Oruê de Oliveira, genro de Silvio Assis, foi contratado em abril de 2024 como auxiliar parlamentar sênior, recebendo R$ 14.077,32 mensais. Sua contratação ocorreu por indicação de Silvia para ocupar a vaga de uma antiga funcionária, após processo de entrevista.
Esquema de extorsão
O caso ganhou dimensão após denúncias de um esquema sofisticado de extorsão envolvendo a CPI das Bets. Silvio Assis é acusado de exigir R$ 40 milhões de um empresário ligado ao cantor Gusttavo Lima, prometendo proteção contra convocação na CPI. O empresário, que administra uma das maiores plataformas de apostas do país, recusou o pagamento e acabou sendo convocado para depor. A abordagem teria ocorrido em um restaurante em Brasília, onde o lobista apresentou documentos que comprovariam sua influência sobre parlamentares.
Paralelamente, a própria senadora Thronicke denunciou a existência de um áudio em que um senador solicita R$ 100 milhões a outro empresário do setor, alegando poder “resolver o assunto” com ela. A gravação, segundo a senadora, revela detalhes de uma reunião ocorrida em São Paulo, onde foram discutidas estratégias para interferir nos trabalhos da CPI. A identidade dos envolvidos não foi revelada, mas o material foi encaminhado à Polícia Federal e ao Supremo Tribunal Federal devido ao foro privilegiado dos suspeitos.
As investigações revelaram um padrão sistemático de abordagens a empresários do setor. Em depoimento sigiloso à PF, três executivos de diferentes plataformas de apostas relataram terem sido procurados por intermediários que se apresentavam como consultores parlamentares. Os valores solicitados variavam entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões, sempre com a promessa de proteção contra convocações ou possíveis indiciamentos na CPI. Os pagamentos seriam feitos através de contratos fictícios de consultoria ou por meio de criptomoedas, dificultando o rastreamento do dinheiro.
O histórico criminal de Silvio Assis adiciona uma camada de complexidade ao caso. Em 2018, ele foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Registro Espúrio, que investigava um esquema de venda de registros sindicais no Ministério do Trabalho. Na época, Assis foi acusado de atuar como intermediário em um esquema que cobrava propinas de R$ 100 mil a R$ 500 mil para liberar registros sindicais. Atualmente, ele responde a processo no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) pelos crimes de corrupção ativa e organização criminosa.
Modus Operandi da corrupção parlamentar
O esquema operava de forma sistemática: primeiro, parlamentares apresentavam requerimentos para convocar representantes de empresas de apostas na CPI. Em seguida, intermediários abordavam estas empresas, alegando ter influência sobre congressistas e capacidade de barrar as convocações mediante pagamento.
A Polícia Federal investiga a participação de outros agentes políticos no esquema, que pode envolver dezenas de milhões de reais em propinas. Três empresários do setor confirmaram à PF que Silvio Assis iniciou contatos estratégicos com representantes do segmento e senadores antes mesmo da formação oficial da comissão, oferecendo serviços de “relações governamentais” e “consultoria parlamentar”.
A abordagem aos empresários seguia um roteiro elaborado: encontros em restaurantes luxuosos ou eventos exclusivos em Brasília, onde os intermediários apresentavam documentos sigilosos e gravações que comprovariam sua influência junto aos parlamentares..
Defesa e Repercussões
Soraya Thronicke reagiu classificando as acusações como tentativa de desestabilizar a CPI. Em resposta, autorizou a quebra de seus sigilos fiscais, bancários e telemáticos, e anunciou que processará por denunciação caluniosa o senador que a acusou.
O vice-presidente da CPI, Alessandro Vieira (MDB-SE), solicitou investigação à Procuradoria-Geral da República. O caso também foi levado ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI).