Banquete à moda da velha política: R$ 27 mil em comida paga pelo povo, servido por Hugo Motta a aliados do partido Republicanos

Em outubro de 2023, um jantar custeado com dinheiro público chamou atenção por seu valor exorbitante: R$ 27.120 pagos para um evento que reuniu 30 parlamentares e o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

Organizado pelo deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), o encontro teve como justificativa a discussão sobre a construção de um aeroporto em Patos (PB), cidade natal do deputado. No entanto, o episódio só veio à tona recentemente, levantando questionamentos sobre a opacidade e o controle precário das despesas parlamentares.

O encontro secreto: ausência na agenda oficial e falta de transparência

O jantar, apesar de custar uma quantia recorde para despesas alimentares da Câmara dos Deputados, não consta na agenda oficial do ministro Silvio Costa Filho. Enquanto cumpria compromissos públicos, o ministro manteve esse encontro fora dos registros formais, dificultando o acompanhamento por parte da sociedade e dos órgãos de controle.

Essa ausência evidencia uma cultura institucional que permite que eventos relevantes ocorram sem o devido registro, comprometendo a transparência e a prestação de contas. O cidadão, que deveria ser o principal fiscal do uso do dinheiro público, fica excluído do processo, alimentando o descrédito nas instituições.

R$ 900 por cabeça: a farra permitida pelas cotas parlamentares

Dividindo-se o valor total da nota, cada convidado custou ao erário mais de R$ 900 — um valor considerado exorbitante mesmo para os padrões de Brasília. O problema não está apenas no custo em si, mas na liberdade quase irrestrita com que parlamentares podem gastar suas cotas. Não há limite específico para gastos com alimentação, tampouco critérios objetivos sobre a razoabilidade dos valores ou a pertinência política dos encontros.

Não é a primeira vez que despesas questionáveis aparecem nos reembolsos da Câmara: há registros anteriores de parlamentares que utilizaram verba pública para bancar bebidas alcoólicas, refeições em restaurantes de luxo e confraternizações com pouca ou nenhuma ligação com a atividade parlamentar.

O silêncio que agrava a suspeita

Até o momento, o deputado Hugo Motta não se manifestou publicamente para esclarecer o motivo do alto custo do jantar ou a ausência do evento na agenda oficial do ministro. Esse silêncio contribui para a percepção de falta de compromisso com a transparência e reforça a sensação de impunidade.

O caso do jantar de R$ 27 mil escancara o descompasso entre discurso e prática. Em um país onde milhões vivem com menos do que foi gasto por cabeça nesse jantar, episódios como esse simbolizam o distanciamento crescente entre representantes e representados.

Mais do que indignação passageira, esse tipo de episódio exige reformas urgentes nas regras de uso das cotas parlamentares, com estabelecimento de limites objetivos, transparência ativa e fiscalização real, sob pena de perpetuarmos o velho script da política que come bem — mas às custas do contribuinte.