Fachin do STF concede habeas corpus coletivo a 15 traficantes condenados do PCC que usavam o subterrâneo de Campinas para transporte de drogas

Em mais um episódio que demonstra o distanciamento entre o Supremo Tribunal Federal e os anseios da sociedade brasileira, o ministro Edson Fachin determinou a libertação de 15 criminosos condenados por tráfico de drogas em Campinas. Esta decisão não apenas compromete a segurança pública, mas também evidencia uma tendência preocupante do Judiciário em favorecer criminosos em detrimento da proteção social.

Operação Sumidouro e a Infraestrutura do Tráfico

A Operação Sumidouro, deflagrada em julho de 2023 pelo Ministério Público Estadual (MP-SP) e pelo Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), revelou uma sofisticada rede criminosa que utilizava galerias pluviais na Vila Formosa, em Campinas, para o tráfico de drogas. Durante a operação, foram apreendidos 5 milhões de microtubos vazios destinados ao embalo de entorpecentes, evidenciando a escala industrial das atividades ilícitas.

Os criminosos adaptaram a infraestrutura urbana para facilitar suas operações, utilizando as galerias subterrâneas como pontos de venda e rotas de fuga, dificultando a ação das forças de segurança. Essa estratégia permitiu que o tráfico ocorresse de forma discreta e eficiente, longe dos olhos da sociedade e das autoridades.

Conexões com o Crime Organizado

As investigações apontaram que a célula criminosa era liderada por Claudemir Antonio Bernardino da Silva, conhecido como “Guinho”, sobrinho de Wanderson Nilton de Paula Lima, o “Andinho”, figura proeminente do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em abril de 2022, Claudemir foi preso em uma mansão em condomínio fechado no distrito de Sousas, em Campinas, onde foram apreendidos R$ 308 mil em espécie, armas de fogo e anotações relacionadas ao tráfico.

A ligação familiar com um dos líderes do PCC evidencia a profundidade das conexões entre a organização criminosa e o tráfico local. Essa relação reforça a capacidade do PCC de expandir sua influência e controlar operações de tráfico em diversas regiões, utilizando membros de confiança para liderar células operacionais.

Decisão Judicial e Seus Fundamentos

Os 15 condenados foram sentenciados em primeira instância a penas em regime inicial semiaberto por organização criminosa e associação ao tráfico. O ministro Fachin argumentou que a manutenção da prisão preventiva ou domiciliar seria incompatível com o regime semiaberto, conforme a legislação vigente. Ele destacou que “não há como conciliar a manutenção da prisão preventiva com a imposição de regime penal menos gravoso que o fechado”.

A decisão baseia-se no entendimento de que a prisão preventiva não deve ser mais gravosa do que a pena imposta na sentença condenatória. Assim, ao serem condenados ao regime semiaberto, os réus não poderiam permanecer em prisão preventiva ou domiciliar, medidas mais severas do que o regime estabelecido na condenação.

Decisão de Fachin é controversa

Do ponto de vista técnico-jurídico, a decisão de conceder habeas corpus coletivo aos condenados suscita questionamentos sobre a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade no contexto das medidas cautelares. Embora a manutenção da prisão preventiva para indivíduos condenados ao regime semiaberto possa parecer desproporcional, é fundamental considerar a gravidade dos crimes cometidos e o potencial risco à ordem pública.

A jurisprudência do STF tem reconhecido que a prisão preventiva deve ser fundamentada em elementos concretos que demonstrem a necessidade da medida para a garantia da ordem pública, da instrução criminal ou da aplicação da lei penal. Especialista ouvidos pelo EUPENSO disseram que, ao conceder o habeas corpus coletivo, não foram devidamente avaliadas as circunstâncias individuais de cada condenado, especialmente considerando a complexidade e a periculosidade da organização criminosa envolvida.

Implicações para a Segurança Pública

A decisão tem suscitado preocupações sobre seus impactos na segurança pública e na eficácia das operações policiais. Especialistas apontam que, embora a decisão esteja juridicamente fundamentada, é essencial equilibrar garantias legais com a proteção da sociedade. A libertação dos condenados pode ser interpretada como um incentivo à impunidade, comprometendo os esforços das forças de segurança e do Ministério Público no combate ao crime organizado.

Além disso, a soltura dos condenados pode desmotivar as forças de segurança, que dedicam tempo e recursos significativos para desmantelar organizações criminosas. A percepção de que o sistema judicial não apoia plenamente esses esforços pode levar a uma sensação de impotência e frustração entre os agentes envolvidos no combate ao crime.

Reflexões sobre o Sistema Judicial

Este caso evidencia a complexidade do sistema judicial brasileiro, onde decisões baseadas em aspectos processuais podem ter consequências significativas na segurança pública. Há um debate contínuo sobre a necessidade de reformas que alinhem a aplicação da lei com as demandas sociais por justiça e segurança, garantindo que direitos individuais não se sobreponham ao bem-estar coletivo.

A sociedade clama por um Judiciário que, além de respeitar os preceitos legais, considere os impactos sociais de suas decisões. Equilibrar a proteção dos direitos individuais com a garantia da segurança pública é um desafio constante, que exige sensibilidade e responsabilidade por parte dos magistrados.