Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e figura central em um esquema de relatórios sigilosos envolvendo o tribunal, foi preso em 9 de maio de 2023 sob acusações de agredir sua esposa e disparar uma arma de fogo durante uma discussão doméstica. O caso, que ganhou ampla repercussão, levanta questões sobre os critérios adotados pelo TSE ao nomear alguém para um cargo tão estratégico como o de chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED).
O episódio e as acusações
Segundo o boletim de ocorrência, na noite de 8 de maio de 2023, Tagliaferro chegou em casa “alterado”, discutiu com sua esposa e, em seguida, efetuou um disparo de arma de fogo. O incidente foi registrado como violência doméstica, ameaça e disparo de arma pela Delegacia de Caieiras, na região metropolitana de São Paulo. Na manhã seguinte, o ex-assessor foi exonerado de seu cargo no TSE, medida que foi oficializada em uma edição extra do Diário Oficial da União.
Tagliaferro nega as acusações de agressão e alega que o disparo foi acidental. “Estou respondendo a um processo cuja acusação é exclusivamente de disparo de arma de fogo dentro da minha casa. A audiência já aconteceu, as testemunhas foram ouvidas, e minha defesa acredita que ficou claro que o disparo foi acidental. Seguimos confiando na Justiça e aguardamos a sentença”, declarou.
Relatórios sigilosos e o papel controverso no TSE
O caso de Tagliaferro não se resume ao episódio de violência doméstica. Antes de sua prisão, ele era uma figura-chave na elaboração de relatórios no TSE, supostamente a mando de Alexandre de Moraes, para embasar decisões judiciais contra apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Reportagem publicada pela Folha de S. Paulo no dia 13 de junho de 2023 revela diálogos que sugerem que o TSE foi utilizado como um braço informal de investigações conduzidas pelo gabinete de Moraes. Tagliaferro, de acordo com as mensagens vazadas, era orientado pelo juiz auxiliar Airton Vieira, do STF, a produzir relatórios que alimentariam decisões judiciais de caráter político.
Escolhas questionáveis e a fragilidade da ética institucional
Tagliaferro foi nomeado por Alexandre de Moraes para o cargo de assessor-chefe da AEED em agosto de 2022, um órgão criado para combater a desinformação no processo eleitoral. A ironia de um cargo destinado a zelar pela transparência e ética no ambiente digital ser ocupado por alguém envolvido em um caso tão grave como o de violência doméstica não passou despercebida. A situação expõe uma falha no processo de escolha e controle de quem ocupa posições de confiança em órgãos cruciais para a democracia.
Implicações para o TSE e a confiança pública
A combinação entre as acusações criminais e o envolvimento de Tagliaferro em operações sigilosas coloca em dúvida a integridade das ações conduzidas pelo TSE durante um período tão delicado como o das eleições. A revelação de que o tribunal pode ter sido instrumentalizado para fins políticos, por meio de informações coletadas de maneira irregular, acentua a crise de confiança nas instituições.