Desembargador do TJSC, Eduardo Mattos Gallo Junior, condenado por agredir companheira por três dias, escapa da pena por prescrição

Eduardo Mattos Gallo Junior, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, foi condenado por espancar sua então companheira durante três dias consecutivos. No entanto, a pena foi extinta devido à prescrição, um desfecho que escandaliza a sociedade e expõe a ineficiência das instituições em garantir justiça para as vítimas de violência.

Um Caso Emblemático da Impunidade

Os atos violentos ocorreram entre os dias 24 e 26 de fevereiro de 2017. A vítima, brutalmente agredida, conseguiu reunir provas robustas, incluindo fotografias tiradas na delegacia logo após as agressões.

Apesar da gravidade dos fatos, a defesa do magistrado recorreu a estratégias protelatórias, alegando supostas irregularidades processuais e negando os crimes imputados ao acusado.

desembargador Eduardo Mattos Gallo Junior

Após anos de trâmites judiciais, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) finalmente condenou Gallo Junior em dezembro de 2024. Contudo, a demora na tramitação processual permitiu que a prescrição beneficiasse o condenado, resultando na extinção da pena.

Esse desfecho é um duro golpe na credibilidade do sistema judicial e na luta contra a violência de gênero.

O caso ilustra não apenas como o poder pode ser usado para manipular a justiça, mas também o temor que muitas vítimas sentem ao denunciar seus agressores.

O silenciamento das mulheres e a condescendência do judiciário são ingredientes de uma equação perversa que perpetua o ciclo de violência doméstica no Brasil.

A Conivência das Instituições

As falhas não param na esfera judicial. Desde o início, o caso foi tratado com descaso pelas instituições responsáveis pela proteção das vítimas. No momento da denúncia, a mulher relatou que encontrou resistência na Delegacia da Mulher em Florianópolis, onde os policiais inicialmente se recusaram a registrar a ocorrência.

Ela precisou se abrigar no banheiro da delegacia enquanto aguardava uma abordagem adequada. Esse episódio reforça a cultura de inércia e leniência com relação à violência contra a mulher.

A falta de preparo de agentes públicos, aliada a uma burocracia que favorece os agressores, contribui para um cenário em que mulheres se veem desprotegidas e sem esperança de justiça. Não surpreende que muitas vítimas desistam de denunciar ou acabem retornando a relações abusivas por não enxergarem alternativa.

Há algo de muito errado no Judiciário brasileiro

O caso do desembargador Eduardo Mattos Gallo Junior deve ser um alerta para a sociedade e para as instituições. É inadmissível que um magistrado, que deveria ser um guardião da justiça, tenha cometido um crime brutal e conseguido se esquivar da punição. A prescrição não pode ser uma carta branca para a impunidade.

É necessário reformar a legislação para impedir que casos semelhantes continuem ocorrendo. O endurecimento das regras de prescrição para crimes de violência doméstica e a criação de mecanismos que garantam celeridade nesses processos são medidas urgentes.

Além disso, é fundamental que haja maior rigor na responsabilização de agentes públicos que negligenciam o atendimento às vítimas.

A verdadeira justiça só será alcançada quando todos forem tratados igualmente perante a lei, independentemente do cargo ou status social. Enquanto isso não acontecer, a mensagem transmitida é clara: no Brasil, a justiça tem donos e as vítimas seguem condenadas ao silêncio.