Plains, Geórgia – 29 de dezembro de 2024 – Jimmy Carter, o 39º presidente dos Estados Unidos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, faleceu neste domingo aos 100 anos em sua residência, cercado por familiares. O ex-presidente, que se tornou o primeiro mandatário americano a atingir um século de vida, estava sob cuidados paliativos desde fevereiro de 2023.
O Legado de um Líder Humanitário
Carter, que governou os EUA entre 1977 e 1981, construiu uma trajetória única que o levou de produtor de amendoim à presidência da maior potência mundial. Sua administração foi marcada por desafios significativos, incluindo uma grave crise energética e a complexa situação dos reféns americanos no Irã.
Após deixar a Casa Branca, Carter se reinventou como um incansável defensor dos direitos humanos e da paz mundial. Seu trabalho humanitário lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz em 2002, consolidando sua reputação como um dos ex-presidentes mais respeitados da história americana.
Uma Presidência de Contrastes
Carter assumiu a Casa Branca em 1977 como um outsider político, um ex-governador da Geórgia praticamente desconhecido nacionalmente. Sua administração enfrentou desafios complexos, incluindo uma grave crise econômica marcada por inflação galopante que chegou a 12% e desemprego de 7,5%.
No cenário doméstico, implementou reformas significativas como a criação dos Departamentos de Energia e Educação. Também nomeou Paul Volcker para presidir o Federal Reserve, uma decisão que posteriormente ajudaria a controlar a inflação.
Escândalos e Controvérsias
Sua presidência foi marcada por escândalos notáveis, incluindo o “Billygate”, envolvendo seu irmão Billy Carter, que recebeu pagamentos do governo líbio. Outro episódio controverso envolveu Bert Lance, diretor do Escritório de Gestão e Orçamento, acusado de irregularidades financeiras.
A administração Carter também enfrentou acusações de favoritismo e nepotismo em nomeações para cargos-chave, além de críticas sobre a demissão em massa de funcionários públicos no Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar.
Política Externa: Sucessos e Fracassos
Em política externa, Carter obteve conquistas significativas como os Acordos de Camp David entre Israel e Egito e o estabelecimento de relações diplomáticas com a China. No entanto, sua presidência foi severamente abalada pela crise dos reféns no Irã, que durou 444 dias, e pela desastrosa tentativa de resgate que resultou na morte de oito militares americanos.
No Brasil, sua política de direitos humanos gerou tensões com o regime militar, levando ao que alguns consideram o pior momento das relações entre os dois países. Carter criticou abertamente casos de tortura e prisões arbitrárias durante a ditadura militar brasileira, uma postura que gerou resistência tanto do governo quanto da oposição.
O Legado Reavaliado
Inicialmente visto como um presidente fracassado após sua derrota para Ronald Reagan em 1980, o legado de Carter tem sido reavaliado positivamente nas últimas décadas. Em pesquisas com historiadores, sua classificação subiu da 33ª posição em 1982 para a 24ª em 2022.