Bolsonaro, que já havia trocado farpas com Marçal anteriormente, surpreendeu ao demonstrar compreensão pela atitude de Datena. Em entrevista à rádio Auriverde Brasil, o ex-presidente afirmou:
“A cadeirada que ele levou, se foi merecida ou não, cada um julga como bem entender. Não achei justa, mas como ser humano, eu entendi aí o Datena fazer aquilo”.
Essa declaração, vinda de alguém que se coloca como defensor da ordem e dos bons costumes, revela um claro duplo padrão: a violência só é condenável quando dirigida a ele ou a seus aliados.
Enquanto candidato e presidente, Bolsonaro se apresentou como vítima de um sistema violento, apontando a facada que sofreu em 2018 como símbolo de sua luta contra adversários inescrupulosos. No entanto, ao relativizar uma agressão física em um debate eleitoral, ele parece esquecer do discurso de paz e ordem que tanto promoveu durante sua campanha.
Essa incongruência não só descredita sua narrativa, mas também reforça a ideia de que, para ele, a violência é um recurso válido quando se trata de atacar desafetos políticos.
O contexto da confusão
A agressão ocorreu após uma série de provocações mútuas durante o debate na TV Cultura. Marçal, que vinha anunciando sua intenção de “desestabilizar” Datena, mencionou acusações de assédio sexual contra o candidato tucano e questionou sua permanência na disputa eleitoral.
A reação violenta de Datena foi reprovável, mas a atitude de Bolsonaro ao justificar, ainda que implicitamente, essa agressão é ainda mais preocupante, pois normaliza o uso da força em situações de discordância política.
Reações e consequências
O episódio gerou repúdio de outros candidatos e está sendo investigado pela Polícia Civil. Além disso, ambas as campanhas apresentaram representações sobre o ocorrido. Porém, o impacto mais nocivo é a mensagem passada ao eleitorado: a de que a violência pode ser tolerada, desde que seja conveniente para seus apoiadores.
A polêmica comparação de Marçal
Após o incidente, Marçal publicou um vídeo em suas redes sociais comparando a cadeirada ao atentado contra Trump e à facada sofrida por Bolsonaro em 2018. Essa atitude foi duramente criticada pelo ex-presidente, que a classificou como “lamentável” e uma tentativa de “buscar se comparar comigo e com o Trump para conseguir o poder“. Entretanto, sua própria tentativa de minimizar o ocorrido com Datena o coloca em uma posição contraditória, já que ele mesmo utilizou o atentado que sofreu como uma ferramenta política.
O posicionamento de Bolsonaro na disputa
Bolsonaro aproveitou o episódio para reiterar seu apoio à reeleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), destacando a indicação do coronel Ricardo Mello Araújo (PL) como vice na chapa. O que se percebe é uma clara tentativa de se distanciar da controvérsia, ao mesmo tempo em que sutilmente valida ações agressivas como tática política.
Independentemente de posicionamento político, é extremamente perigoso buscar justificativas para atos de violência, ainda mais em um contexto que deveria ser de civilidade e respeito ao debate democrático.
Bolsonaro, que outrora se apresentava como um defensor intransigente da lei e da ordem, deveria ser o primeiro a condenar agressões físicas, mas parece mais preocupado em defender suas conveniências políticas do que em manter a coerência de seu discurso. No jogo político, a moralidade se torna maleável, e a violência, aceitável — contanto que sirva a seus propósitos.