Perseguição ou má governança? Mercado analisa caso Itaú-Broedel e vê riscos à reputação do banco

O mercado financeiro brasileiro está atento às recentes acusações do Itaú Unibanco contra seu ex-diretor financeiro, Alexsandro Broedel, por supostas irregularidades financeiras. A preocupação aumenta devido ao momento em que as acusações foram feitas, logo após ele aceitar uma posição global no Santander da Espanha, um dos principais concorrentes do Itaú.

Essa situação levanta questões sobre a governança corporativa do banco, especialmente considerando que os pagamentos questionados ocorreram ao longo de anos sem serem detectados pelos controles internos da instituição.

Cronologia dos Eventos

Broedel ingressou no Itaú em 2012 e atuou como CFO de 2020 até julho de 2024. Em julho de 2024, ele anunciou sua saída para assumir a contabilidade global do Santander na Espanha. Pouco após essa decisão, o Itaú iniciou investigações internas que resultaram nas acusações atuais.

A sequência dos acontecimentos levanta suspeitas sobre as motivações do banco, já que as investigações começaram somente após a saída de Broedel para um concorrente direto.

Detalhes das Acusações

O suposto esquema investigado pelo Itaú envolve uma complexa rede de empresas e um dos mais respeitados nomes da contabilidade brasileira. Eliseu Martins, 79 anos, professor emérito da USP e ex-diretor da CVM, mantinha sociedade com Alexsandro Broedel na empresa Broedel Consultores desde 2012. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Martins foi responsável pela implantação das Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil e é considerado uma das maiores referências em contabilidade do país.

Segundo a investigação do banco, o esquema funcionaria da seguinte forma: Broedel, enquanto CFO do Itaú, aprovava a contratação de pareceres técnicos da Care Consultores, empresa pertencente a Eliseu Martins e seu filho Eric Martins. A Care, por sua vez, repassava 40% dos valores recebidos para outra empresa, a Evam Consultores, de propriedade de Martins e seus filhos. Por fim, a Evam realizaria pagamentos tanto para Broedel pessoa física quanto para sua pessoa jurídica.

Entre junho de 2019 e junho de 2024, foram contratados 40 pareceres que resultaram em 21 pagamentos, totalizando R$ 13,255 milhões. O banco afirma que não conseguiu localizar 16 dos pareceres supostamente entregues, e outros quatro teriam sido pagos antecipadamente sem nunca terem sido entregues. 

Defesa de Broedel

Em resposta, a defesa de Broedel nega todas as acusações, afirmando que ele sempre agiu de forma ética e transparente durante seus 12 anos no Itaú. Destaca ainda que os serviços questionados eram prestados ao banco há décadas, muito antes de sua entrada na diretoria, e que todas as contratações eram de conhecimento das diferentes áreas da instituição.

A defesa também questiona o timing das acusações, sugerindo que elas surgiram apenas após Broedel ter apresentado sua renúncia para assumir uma posição global em um dos principais concorrentes do Itaú.

Preocupações do Mercado

O caso envolvendo o ex-CFO do Itaú expõe uma situação delicada no maior banco privado do país. Enquanto o Itaú tenta demonstrar rigidez ao expor publicamente as acusações contra Alexsandro Broedel, o timing e as circunstâncias das investigações geram desconforto no mercado financeiro. A coincidência de dois escândalos envolvendo altos executivos em menos de uma semana – incluindo a demissão do diretor de marketing por uso indevido do cartão corporativo – amplifica as preocupações sobre a real efetividade dos controles internos da instituição15.

O mercado questiona como uma sociedade empresarial entre Broedel e Eliseu Martins, estabelecida desde 2012 e de caráter público, só foi identificada como problemática após o executivo anunciar sua ida para o Santander6. Além disso, o fato de que os supostos desvios teriam ocorrido por cinco anos sem despertar alertas nos sistemas de compliance do banco, considerado um dos mais robustos do país, adiciona uma camada extra de preocupação sobre a real eficácia da governança corporativa da instituição.

Especialistas apontam que, embora o valor envolvido nas acusações seja relativamente baixo para um banco do porte do Itaú, o episódio expõe fragilidades nos processos internos de uma instituição que sempre se destacou por sua governança. A forma agressiva como o banco optou por expor publicamente as acusações, antes mesmo do devido processo legal, também gera debates sobre a possível existência de motivações além das questões técnicas apresentadas.