Em uma demonstração de crescente tensão entre governo e mercado financeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom durante entrevista à RedeTV! exibida neste domingo (10), em Brasília. Com retórica reminiscente de seus primeiros mandatos, o presidente prometeu “vencer” o mercado financeiro, desconsiderando alertas sobre a deterioração fiscal do país.
O perigoso discurso populista
Em meio a um cenário de crescente preocupação com as contas públicas, Lula optou por minimizar as advertências do mercado, classificando-as como “bobagens” e acusando os agentes financeiros de atuarem com “gana especulativa” e “hipocrisia“. Esta postura confrontacional surge justamente quando seu governo enfrenta pressão para apresentar um pacote consistente de revisão de gastos.
A negação da realidade fiscal
O presidente Lula tem demonstrado uma preocupante resistência em enfrentar a deterioração das contas públicas, mesmo diante de alertas cada vez mais contundentes do mercado e de órgãos de controle. Em sua recente entrevista à RedeTV!, o petista não apenas evitou apresentar medidas concretas de contenção de despesas, como também minimizou a gravidade da situação com retórica política.
A gravidade do cenário é evidenciada pelos números: a dívida pública deve atingir 80% do PIB em 2024, com tendência de crescimento contínuo nos próximos anos. O déficit primário, inicialmente projetado em R$ 9,3 bilhões, já saltou para R$ 28,8 bilhões, atingindo o limite máximo permitido pelo novo arcabouço fiscal.
Economistas apontam “sinais claros de descontrole fiscal”, com reflexos já evidentes nos indicadores econômicos: títulos da dívida pública rondando os 13% e inflação próxima a 7%. O senador Izalci Lucas caracterizou a atual política fiscal como um “espetáculo de ilusionismo”, destacando a prática governamental de inflar receitas e subestimar despesas.
A situação é agravada pela postura do presidente em transferir responsabilidades. Em vez de apresentar um plano concreto de ajuste, Lula questiona se “o Congresso vai aceitar reduzir as emendas” e se “os empresários que vivem de subsídio do governo vão aceitar abrir mão“. Esta retórica evidencia não apenas a ausência de um plano fiscal consistente, mas também uma preocupante tendência de minimizar a gravidade da situação econômica do país.
Para agravar o quadro, mesmo que o governo consiga retornar ao nível de arrecadação de 2022 – o mais elevado da série histórica – ainda enfrentaria um déficit de quase 0,5% do PIB. Este cenário demonstra o tamanho do desafio fiscal que o governo insiste em não enfrentar de maneira objetiva e responsável.
Contradições e transferência de responsabilidade
Em uma tentativa de desviar o foco das responsabilidades do Executivo, Lula cobrou participação dos demais Poderes no ajuste fiscal. O presidente questionou se o Congresso aceitaria reduzir emendas parlamentares e apontou supostos “excessos” do Judiciário, numa clara estratégia de dispersão da responsabilidade fiscal.
Impactos no mercado
A postura do presidente já causa reflexos negativos nos indicadores econômicos. O ministro Fernando Haddad, que adiou uma viagem à Europa para gerenciar a crise, tenta minimizar os danos enquanto o mercado reage com apreensão à falta de clareza sobre os cortes necessários.