A dívida pública brasileira atingiu um novo marco preocupante em junho, alcançando 77,84% do Produto Interno Bruto (PIB), o nível mais alto desde novembro de 2021. O Banco Central divulgou os dados nesta segunda-feira, 29, revelando que a Dívida Bruta do Governo Geral chegou a impressionantes R$ 8,691 trilhões, um salto significativo em relação aos 76,7% do PIB registrados no mês anterior.
Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, destacou em coletiva de imprensa que o aumento da dívida foi impulsionado principalmente pelos juros e pela desvalorização cambial de 6,1% observada em junho. Este indicador, que engloba as dívidas dos governos federal, estaduais e municipais, é crucial para a avaliação da solvência do país por agências internacionais de classificação de risco.
Comparação Internacional
Desde o início de 2023, a dívida bruta na proporção do PIB tem crescido consistentemente, acumulando um aumento de 3,4 pontos percentuais. Comparada internacionalmente, a dívida brasileira, calculada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), atinge 86,72% do PIB, enquanto a média dos países em desenvolvimento na América Latina é de 68,47%.
O alto endividamento exige juros mais elevados para seu financiamento, o que torna o custo de carregamento da dívida brasileira significativamente superior ao de países vizinhos. Em 2021, o Brasil gastava 6,68% do PIB em transações da dívida pública, em contraste com a média de 4,13% na América Latina e 2,28% em economias emergentes.
Dólar afeta os números
O cenário atual contrasta fortemente com o pico histórico de 87,6% do PIB, registrado em dezembro de 2020 durante a pandemia de COVID-19, e com o menor nível de 51,5% do PIB, observado em dezembro de 2013. Esta flutuação ilustra a volatilidade econômica enfrentada pelo Brasil nos últimos anos.
Paralelamente, a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) também apresentou um leve aumento, atingindo 62,2% do PIB em junho, totalizando R$ 6,946 trilhões. Rocha explicou que a desvalorização do real frente ao dólar teve um impacto negativo na dívida líquida, compensado pelo aumento dos juros nominais.
Contexto político e cambial
O cenário é ainda mais complexo considerando as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o mercado de câmbio. Lula caracterizou a subida do dólar como um “ataque especulativo”, sugerindo possíveis ações governamentais futuras. Esta retórica presidencial ocorre em um contexto onde o real foi a quinta moeda que mais se desvalorizou globalmente em 2024, segundo levantamento do Poder360.
O presidente do Banco Central, por sua vez, atribuiu a alta do dólar ao aumento da percepção de risco no Brasil, descartando a necessidade de intervenção no mercado de câmbio por não identificar disfuncionalidades.
Este panorama econômico desafiador, marcado pelo aumento da dívida pública e volatilidade cambial, coloca em evidência os desafios que o Brasil enfrenta para manter sua estabilidade financeira e atratividade para investidores internacionais.