Mesmo com audiência próxima de zero, EBC aumenta salário de Cissa Guimarães para R$ 100 mil por mês

No último dia 31 de março, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) assinou, sem licitação, um contrato que elevou o salário mensal da apresentadora Cissa Guimarães para R$ 100 mil, valor 43% maior que os R$ 70 mil pagos anteriormente. O acordo anual com a produtora Fábrica Entretenimento, responsável pelo programa “Sem Censura” exibido na TV Brasil, subiu de R$ 5 milhões para R$ 6,2 milhões, segundo informações oficiais da estatal.

Contexto e Histórico

Cissa Guimarães ingressou na EBC no início do governo Lula, em 2023, para apresentar o “Sem Censura”, programa que voltou a ser exibido diariamente a partir de fevereiro de 2024 após reformulação. O contrato inicial, publicado em janeiro de 2024, previa um montante de quase R$ 5 milhões para 13 meses de produção, incluindo R$ 840 mil destinados exclusivamente à apresentadora.

A ampliação do contrato em março de 2025, que elevou o salário para R$ 100 mil mensais, tem como justificativa oficial a inclusão de “edições especiais” do programa em outras cidades e a produção de conteúdo original para redes sociais, ampliando o escopo de trabalho da apresentadora.

A audiência média do programa “Sem Censura”, apresentado por Cissa Guimarães na TV Brasil em 2025, gira em torno de 0,18 ponto no Ibope nas principais regiões metropolitanas, o que equivale a cerca de 45 mil domicílios na Grande São Paulo, segundo dados oficiais da EBC e medições regionais recentes. 

Embora o programa tenha atingido picos de até 1,12 ponto no Rio de Janeiro em episódios especiais, como o com a participação do influenciador Felipe Neto em 2024, a média geral permanece baixa e insuficiente para justificar o aumento salarial para R$ 100 mil mensais em um cenário de restrição orçamentária severa.

Justificativas e Documentação

Um dos documentos que embasaram a renovação do contrato destaca o “engajamento em causas sociais e comunitárias” de Cissa Guimarães, citando como exemplo sua participação em uma campanha de trânsito do Ministério das Cidades há 13 anos, durante o governo Dilma Rousseff. A EBC afirma que a experiência e o carisma da apresentadora são “medidas estratégicas sólidas, alinhadas aos objetivos de audiência e relevância institucional”.

O Cenário Fiscal desastroso do Brasil

O aumento salarial ocorre em meio a uma das maiores crises orçamentárias do setor público brasileiro. Em maio de 2025, o governo federal anunciou bloqueios de R$ 31,3 bilhões no orçamento, afetando diretamente ministérios, programas sociais e estatais, incluindo a EBC. O corte orçamentário impõe restrições severas às despesas discricionárias, tornando o reajuste salarial da apresentadora um ponto de forte controvérsia.

Críticas e Repercussões

A decisão provocou reação imediata no meio político e na opinião pública. Parlamentares da oposição criticaram o aumento como um exemplo de “descaso” e “privilégio” em tempos de austeridade fiscal. Nas redes sociais, o caso alimenta debates sobre transparência, prioridades do Estado e o papel da comunicação pública.

Especialistas em comunicação pública alertam para o risco de que a EBC, ao apostar em nomes consagrados e altos salários, esteja mais preocupada em conquistar audiência com celebridades do que em cumprir sua missão de oferecer conteúdo plural e de interesse público, especialmente diante da escassez de recursos.