Máfia sindical no INSS com omissão do governo Lula: como funcionava o maior roubo de aposentadorias da história

Entre 2019 e 2024, um esquema de fraudes covarde drenou mais de R$ 6,3 bilhões diretamente dos contracheques de aposentados brasileiros. O crime não se deu em becos escuros nem em gabinetes clandestinos — mas sob a luz do dia, com carimbo oficial e silêncio cúmplice de autoridades. Foram seis milhões de vítimas, idosos humildes, arrancando trocados da aposentadoria mínima para bancar luxo, propina e poder.

O golpe tinha uma engrenagem sórdida: entidades de fachada (muitas ligadas a centrais sindicais), acordos com o INSS, cadastros forjados e descontos automáticos, nunca autorizados. As vítimas? Os mais vulneráveis da República — aposentados rurais, urbanos, analfabetos, deficiente e esquecidos nas filas de espera. O método era simples e perverso: descontar mensalidades associativas do benefício previdenciário sem consentimento. O Estado, ao invés de proteger, virou instrumento da pilhagem.

A omissão que custou bilhões

Desde 2023, o novo governo Lula sabia. Já em junho, conselheiros do próprio Conselho Nacional da Previdência alertaram o então ministro Carlos Lupi (PDT) sobre descontos em massa sem autorização. Ele prometeu apurar. Não fez. Em outubro, um caso escancarou a fraude: a Contag pediu ao INSS o “desbloqueio” para cobrar 34.487 aposentados de uma só vez — mesmo só 213 tendo autorizado.

Em vez de barrar, o INSS chancelou. O procurador Virgílio de Oliveira, à época o braço jurídico da autarquia, deu parecer favorável. Depois descobriu-se que embolsou R$ 12 milhões em propina. André Fidelis, diretor de Benefícios, endossou. E o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, nomeado por Lupi, assinou a liberação usando como argumento… “boa-fé”. Uma piada de mau gosto com dinheiro público.

Fingimento e cinismo

Quando a bomba começou a explodir em 2024, o governo ensaiou reação. Em março, Stefanutto anunciou uma norma para suspender novos descontos. Falácia. Em junho, os mesmos velhos esquemas foram reativados, com “desbloqueios excepcionais” para entidades investigadas. Nada de biometria, assinatura digital ou qualquer prova de consentimento. A Controladoria-Geral da União (CGU) alertava. O Tribunal de Contas da União (TCU) pedia providência. Stefanutto e cúpula seguiam ignorando.

Enquanto isso, uma rede de lobistas movimentava milhões. Antônio Carlos “Careca do INSS”, operador central do esquema, lavou mais de R$ 50 milhões em “consultorias” fictícias. Do total, R$ 9,3 milhões foram repassados a servidores ou parentes. A esposa de Virgílio ganhou um Porsche Taycan. O filho de Fidelis teve R$ 1,5 milhão depositado em seu escritório de advocacia. Roubava-se, e com estilo.

Escândalo explode

Em abril de 2025, a Polícia Federal, junto da CGU, deflagrou a Operação Sem Desconto. Foram 211 mandados de busca, 6 prisões, sequestro de R$ 1 bilhão em bens e o afastamento imediato de Stefanutto. Em um único endereço, a PF apreendeu carros de luxo, joias e dinheiro vivo somando mais de R$ 15 milhões. Estava desmascarado o maior escândalo de apropriação indevida de aposentadorias da história brasileira.

Entre as descobertas: 97% dos aposentados afirmaram nunca ter autorizado qualquer desconto. Em média, cada vítima perdeu mais de R$ 1.000 — uma fortuna para quem vive com salário mínimo. Idosos pobres financiaram viagens à Europa, buffets de luxo e escritórios jurídicos de elite.

Círculo de poder: filhos, irmãos e ministros

A trama tem nomes graúdos. A Contag, entidade ligada ao PT, abocanhou sozinha R$ 2 bilhões. A Cebap, que recebeu R$ 139 milhões, contratou por R$ 50 mil mensais o escritório de Enrique Lewandowski, filho do então ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A justificativa? Defender os acordos com o INSS junto à própria CGU e Secretaria do Consumidor. Coincidência?

No Sindnapi, entidade que arrecadou R$ 90,5 milhões em 2024, o vice-presidente era ninguém menos que Frei Chico, irmão mais velho do presidente Lula. Embora não seja formalmente investigado, sua presença reforça a conexão política que pairava sobre o esquema. Não à toa, centrais sindicais correram para acusar “perseguição política”.

Carlos Lupi, ministro da Previdência, caiu dias após a operação. Alegou inocência e disse que “não pode ser responsabilizado por erro de terceiros”. Mas era o titular da pasta, foi alertado diversas vezes e nada fez. Sua demissão, tardia, foi um gesto de sobrevivência política de Lula.

Os verdadeiros lesados

Por trás dos bilhões desviados estão os invisíveis da sociedade: aposentados que não conseguiam entender de onde vinham descontos de R$ 30, R$ 50, R$ 80 por mês. Dinheiro que faz diferença entre remédio ou fome. Muitos perderam o pouco que tinham. Outros, a fé no sistema.

A CGU estima mais de 6 milhões de vítimas. Em filas do INSS, relatos de desespero, raiva e vergonha. Alguns idosos desconfiaram da própria família, outros se resignaram achando que “era normal”. O golpe não só drenou recursos — drenou dignidade.

O que se aprendeu?

Pouco adianta prender laranjas e operadores se os mecanismos que permitem fraudes seguem vivos. O INSS precisa ser reformado. Os descontos associativos, proibidos ou no mínimo profundamente auditáveis. A responsabilização tem que subir até os grandes nomes, até os blindados pelo sistema. Quem participou — ativa ou passivamente — precisa pagar.

Este escândalo não é apenas contábil. É moral. Ele mostra que parte da elite sindical e burocrática perdeu qualquer compromisso com o povo que diz representar. Traíram os velhos de casa — os que sustentaram o país com trabalho, suor e esperança. Roubar de aposentado é cruzar a última fronteira da canalhice.

Conclusão

A operação revelou um sistema podre, com raízes profundas em sindicatos aparelhados, servidores corrompidos e gabinetes coniventes. Foi preciso o esforço de órgãos técnicos independentes — CGU e PF — para romper o cerco do silêncio. O Judiciário terá agora de fazer sua parte: julgar, condenar e recuperar o dinheiro.

O Brasil não pode tratar esse episódio como “mais um escândalo”. Ele é emblemático. Porque simboliza o colapso institucional diante dos fracos e o privilégio diante dos fortes. Se o país ainda tiver algum compromisso com decência, os fraudadores — todos eles — acabarão atrás das grades. E os aposentados terão, finalmente, mais que promessas: terão justiça.