Brasília, DF – 03 de maio de 2025 – Enrique Lewandowski, advogado e filho do atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, atua na defesa de duas entidades – CEBAP e AMBEC – diretamente implicadas em um dos maiores escândalos de fraudes previdenciárias já registrados no Brasil. Segundo investigações da Polícia Federal, essas associações orquestraram um esquema de descontos ilegais em aposentadorias do INSS, desviando impressionantes R$ 6,3 bilhões dos benefícios de idosos entre 2019 e 2024.
O escritório Panella Advogados, onde Enrique atuou, assumiu a defesa dessas entidades antes da “Operação Sem Desconto”, deflagrada para desmantelar o golpe. Mas o cerne da questão transcende datas e contratos: O absurdo é que Enrique é filho do ministro que comanda a pasta responsável por supervisionar as investigações contra seus próprios clientes. Esse fato não é uma mera coincidência – é uma janela escancarada para o conluio que define o Estado brasileiro.
Este não é um caso isolado de nepotismo jurídico. É a prova cabal de um sistema capturado por interesses familiares e privados, onde a legalidade serve de biombo para a imoralidade e a confiança pública é sacrificada no altar do privilégio. O caso Lewandowski não apenas expõe a fragilidade ética das instituições; ele demonstra como o Brasil normalizou o inaceitável.
A Legalidade como escudo para a imoralidade
Ninguém contesta a legalidade. O Código de Ética da OAB não impede Enrique Lewandowski de advogar para quem bem entender, mesmo que seus clientes sejam alvos de investigações supervisionadas por seu pai. Mas essa defesa técnica é uma farsa cínica. Em um país onde a lei é moldada para proteger os poderosos, a legalidade torna-se um escudo conveniente, não um padrão de justiça. A relação entre o advogado das entidades acusadas e o ministro da Justiça não é apenas eticamente duvidosa – é um tapa na cara da imparcialidade que qualquer democracia funcional exige.
Dizer que as funções de Enrique e Ricardo Lewandowski são “independentes” é um insulto à inteligência coletiva. Numa república digna desse nome, a aparência de conflito de interesses seria suficiente para disparar alarmes institucionais. No Brasil, ela é tratada como um detalhe burocrático, afogado em notas oficiais e retórica vazia. A legalidade, aqui, não absolve; ela condena o sistema que a usa como alibi.
A Engenharia do conflito de Interesses
O caso Lewandowski não é uma coincidência – é o produto de uma máquina bem azeitada. A elite jurídica e política brasileira opera em um ciclo fechado de favores e proteções, onde laços familiares são o cimento que sustenta o poder. Enrique defende entidades acusadas de saquear bilhões dos mais vulneráveis, enquanto Ricardo Lewandowski comanda o Ministério da Justiça, responsável por coordenar a resposta a esses crimes. Ambos estão “dentro da lei”. E é exatamente essa lei – complacente, permissiva, cega – que precisa ser alterada.
A narrativa de que não há ilegalidade ignora o óbvio: o sistema foi desenhado para que tais relações sejam possíveis. É uma engenharia deliberada, onde os sobrenomes ilustres transitam entre togas e cargos públicos, blindando-se mutuamente. O Brasil não sofre de exceções; ele padece de uma regra que glorifica a promiscuidade institucional como se fosse mérito.
A retórica da advocacia como biombo de impunidade
A advocacia, em mãos privilegiadas, transformou-se em um instrumento de blindagem. Enrique Lewandowski não é um pioneiro solitário; ele é parte de uma legião de filhos, sobrinhos e parentes de autoridades que converteram o Direito em uma franquia familiar. O discurso de que “advogar é um direito” soa nobre até você perceber quem está sendo defendido – e por quem. No caso Lewandowski, o escritório Panella Advogados lucra representando entidades que sangraram os cofres públicos, enquanto o Ministério da Justiça, sob comando paterno, supervisiona o caso.
Essa retórica elegante mascara uma verdade crua: a advocacia, para muitos, não é mais uma profissão, mas um mecanismo de poder. Um biombo que protege os investigados com tecnicismos e pedigree, enquanto o cidadão comum assiste à erosão da justiça. O caso Lewandowski é o exemplo mais escandaloso de uma praga sistêmica.
A Normalização do inaceitável
Houve um tempo em que tal escândalo incendiaria manchetes e ruas. Hoje, em 2025, o Brasil engole em silêncio. Enrique segue advogando para fraudadores bilionários; Ricardo segue no Ministério da Justiça. A sociedade não reage porque foi anestesiada por décadas de repetição. O que era aberrante tornou-se trivial, gerenciado com comunicados oficiais e explicações mornas que ninguém contesta. A tragédia não está no caso em si, mas na apatia que ele revela.
Essa normalização é o verdadeiro crime. Um país que aceita a sobreposição entre o advogado dos acusados e o chefe da investigação não está apenas falido em ética – está falido em indignação. O Brasil de hoje não questiona; conforma-se. E é essa resignação que perpetua o ciclo de captura institucional.
Quando tudo é permitido, nada é vergonhoso
O caso Lewandowski não é uma falha; é uma radiografia. Uma elite que prega compliance enquanto usa laços familiares para proteger interesses escusos. Um sistema de justiça que se vangloria de sua formalidade, mas se afoga em sua própria hipocrisia. Enrique pode advogar, sim – mas o Brasil não pode continuar fingindo que isso é normal. Quando a legalidade justifica o injustificável, o colapso ético se consuma não em um estrondo, mas em um silêncio ensurdecedor.
Este é o retrato de um Estado capturado: onde o privilégio se disfarça de direito, o conflito de interesses vira rotina e a vergonha é um luxo que ninguém mais pode pagar.