Um surto significativo de viroses está afetando os principais destinos turísticos do litoral brasileiro, especialmente nos estados de São Paulo e Santa Catarina, gerando preocupações sobre a transparência das autoridades e a real extensão do problema. Enquanto algumas prefeituras divulgam números elevados, outras minimizam a situação, apesar de evidências de sobrecarga nos sistemas de saúde.
Dimensão do Problema
No litoral paulista, os números são alarmantes:
- Guarujá: registrou 2.064 atendimentos relacionados a viroses em dezembro de 2024.
- Santos: contabilizou 2.264 atendimentos no mesmo período.
- São Vicente: reportou 1.754 casos em dezembro.
Em Santa Catarina, a situação também é crítica. O Instituto do Meio Ambiente (IMA) divulgou que, no início de 2025, 35,6% dos pontos analisados em Florianópolis estavam impróprios para banho, indicando uma piora em relação ao final de 2024, quando 25 pontos estavam nessa condição.
Além disso, em 2023, Santa Catarina registrou mais de 200 mil casos de doenças diarreicas agudas, conhecidas como “viroses de verão”, o maior número de surtos dos últimos cinco anos.
Omissões e Contradições
Há uma disparidade nas respostas oficiais. Enquanto cidades como Guarujá e Santos apresentam dados detalhados, outras, como Praia Grande, minimizam a situação, alegando não haver “aumento considerável”, mesmo com evidências de sobrecarga nos serviços de saúde e escassez de medicamentos nas farmácias.
Questões Ambientais e Sanitárias
A qualidade da água é um fator crítico. Em Santa Catarina, o IMA monitora regularmente a balneabilidade das praias, e os relatórios recentes indicam uma piora nas condições de banho, com um aumento no número de pontos impróprios.
Em Florianópolis, a Vigilância Sanitária investiga se os casos de virose estão relacionados às praias impróprias para banho, considerando que a contaminação da água pode ser um vetor significativo para a disseminação dessas doenças.
Impacto na Saúde Pública
O sistema de saúde está sobrecarregado. Em Santos, um único pronto atendimento registrou 590 atendimentos em 24 horas, com 80% dos casos relacionados a viroses. A falta de medicamentos básicos, como probióticos, antieméticos e reidratantes orais, agrava ainda mais a situação.
Em Florianópolis, desde a virada do ano, mais de 1.300 casos de virose foram registrados na rede pública, indicando um aumento significativo em relação aos anos anteriores.
Falhas na Gestão e Monitoramento
Um ponto crítico é a ausência de notificação obrigatória dessas viroses ao Ministério da Saúde, o que dificulta o real dimensionamento do problema e a implementação de medidas preventivas eficazes. Esta lacuna no sistema de vigilância sanitária impede uma resposta coordenada e eficiente ao surto.
Causas e Prevenção
Especialistas apontam que, durante o verão, a combinação de altas temperaturas, aglomerações em praias e consumo de alimentos e água contaminados contribui para o aumento de viroses gastrointestinais. A contaminação pode ocorrer por meio de água do mar poluída, alimentos mal conservados ou manipulados inadequadamente e falta de higiene pessoal.