A Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), centro de formação de futuros juízes, tornou-se palco de um drama digno de novela, mas com consequências reais e potencialmente prejudiciais para a reputação da instituição. O que era para ser um ambiente de aprendizado e debate jurídico transformou-se em cenário de uma explosão passional que expôs, para além da vida privada de um desembargador, a fragilidade dos protocolos e a cultura de silêncio que parecem pairar sobre a escola.

Imagine a cena: uma sala de aula lotada, o desembargador Alexandre Freitas Câmara, figura renomada do Direito Processual, ministrando sua aula. De repente, a porta se abre e Janaina Câmara, sua esposa, surge com uma declaração bombástica: “Estou aqui para marcar território!”. O desconforto é palpável, mas o pior ainda estava por vir.
Janaina, movida pela fúria, dirigiu-se a outra sala, onde lecionava a professora apontada como pivô da crise conjugal. O que se seguiu foi um ataque verbal implacável, com gritos e xingamentos que ecoaram pelos corredores da EMERJ. A professora, cuja identidade a imprensa tem preservado, foi publicamente humilhada e acusada de ser “piranha”. O caos se instalou, e as redes sociais, ávidas por escândalos, trataram de disseminar os registros da confusão.
No dia seguinte, o próprio Alexandre Câmara, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio, doutor pela PUC Minas, professor da FGV Direito Rio e coordenador na EMERJ, tentou controlar os danos. Em um áudio direcionado aos alunos, admitiu o relacionamento extraconjugal, alegou uma separação temporária e insinuou que a professora já estava sendo desligada da EMERJ por desempenho insatisfatório. Uma “infeliz coincidência”, segundo ele, teria reunido todos no mesmo local.
Mas aqui reside o ponto crucial: o problema não é a traição em si, mas a instrumentalização de uma instituição pública para resolver questões pessoais e a chocante ausência de uma resposta institucional à altura da gravidade dos fatos.
Quebra de Protocolo e Silêncio Cúmplice:
O que aconteceu na EMERJ representa uma série de falhas alarmantes. A invasão de uma pessoa sem vínculo com a escola, a agressão verbal a uma docente em pleno ambiente de trabalho, tudo isso configura uma quebra flagrante do protocolo acadêmico e do respeito institucional. Onde estavam os responsáveis pela segurança e pela ordem? Por que a direção da escola não agiu para conter a situação?
A justificativa do desembargador, focada em seus sentimentos e na “infeliz coincidência”, soa como uma tentativa de minimizar o impacto de suas ações. Ao transformar um problema privado em um escândalo público dentro de uma instituição de ensino jurídico, ele borrou a linha que separa a vida pessoal do exercício da função pública, abrindo um precedente perigoso.
O afastamento da professora, mesmo que baseado em critérios pedagógicos, levanta suspeitas. A coincidência temporal com o escândalo é gritante, e a falta de transparência no processo só alimenta a desconfiança. Seria ela a única a pagar o preço pela crise?
E o silêncio da EMERJ? Este é, talvez, o aspecto mais perturbador de toda a história. Diante da repercussão do caso, a instituição optou por se calar, recusando-se a comentar o ocorrido ou a anunciar qualquer investigação formal. Esse silêncio ensurdecedor, interpretado por muitos como conivência, lança uma sombra sobre a credibilidade da escola e alimenta a percepção de que existe uma cultura de proteção e acobertamento.
A omissão da EMERJ
O escândalo da EMERJ vai além de um caso de adultério e gritaria. Ele expõe a fragilidade dos mecanismos de controle e a aparente tolerância com condutas que comprometem a integridade da instituição. A falta de uma resposta firme e transparente pode corroer a confiança dos alunos, dos professores e da sociedade no sistema de formação de magistrados.
Em vez de uma lição sobre ética e responsabilidade, o episódio da EMERJ parece ter sido abafado por uma cortina de fumaça, alimentando a cultura do silêncio e da impunidade. Resta saber se a instituição terá a coragem de romper com esse padrão e enfrentar os desafios que se apresentam, ou se continuará a se esconder atrás de um silêncio que, a cada dia, se torna mais ensurdecedor. O futuro da EMERJ, e a imagem do Judiciário fluminense, dependem disso.