Ceilândia, DF – A morte de Sara Raíssa Pereira, de apenas 8 anos, após participar do “desafio do desodorante” no TikTok, reacende o debate sobre os perigos ocultos nas tendências virais das redes sociais. O caso, ocorrido em Ceilândia, Distrito Federal, destaca a necessidade urgente de conscientização sobre os riscos associados a esses desafios, que têm ceifado vidas de crianças e adolescentes no Brasil e no mundo.

Na última quinta-feira (10), Sara inalou gás de desodorante aerossol, seguindo uma tendência popular no TikTok. A prática resultou em uma parada cardiorrespiratória. Apesar dos esforços médicos no Hospital Regional de Ceilândia, a menina não apresentou melhora neurológica e teve morte cerebral confirmada.
A Polícia Civil do Distrito Federal instaurou inquérito para investigar as circunstâncias da morte e identificar os responsáveis pela divulgação do desafio. Caso seja comprovado dolo ou negligência grave, os envolvidos poderão responder por homicídio duplamente qualificado, com pena de até 30 anos de prisão.
Casos semelhantes ocorreram no Brasil e no exterior: em 2018, uma adolescente em São Bernardo do Campo; em 2022, uma jovem de Belo Horizonte; em 2023, uma criança de 10 anos no Reino Unido. O padrão se repete: desafios perigosos, algoritmos virais, vítimas muito jovens.
Essas mortes revelam um fenômeno cultural profundo: o sequestro do imaginário infantil pelas redes sociais. Desafios virais funcionam como rituais de iniciação para a aceitação social virtual. A criança aprende que o valor dela está no alcance, no like, no comentário. Ela respira o ar da validação digital, ainda que isso custe o oxigênio real.
O desafio não é só do TikTok. O desafio é da cultura.
Vivemos num tempo em que a infância já não é um campo sagrado, mas um mercado. Onde os pais, exaustos e conectados, terceirizam a educação emocional dos filhos ao feed. Onde a primeira autoridade não é o pai, nem a mãe, mas o algoritmo do entretenimento.
A criança deseja ser vista, pertencente, aprovada. É parte da sua natureza humana — criada para viver em comunhão. Mas quando ela não encontra essa comunhão no lar, busca onde pode. E o que o TikTok oferece não é comunhão, mas exposição. Não é aceitação, mas performance. Não é formação, mas consumo.
Sara não queria morrer. Queria ser notada.