A Amazônia enfrenta sua pior crise de incêndios em duas décadas, com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelando um aumento significativo nos focos de calor. De janeiro a julho deste ano, foram registrados 21.221 focos, um aumento de 75% em relação ao mesmo período de 2023.
Maior número de incêndios desde 2005
Este número representa o maior registro desde 2005, levantando preocupações sobre a eficácia das políticas de preservação ambiental. Apenas nos dias 23 e 24 de julho, a ONG Greenpeace reportou 1.318 novos focos na região.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) atribui a intensificação dos incêndios às mudanças climáticas e ao fenômeno El Niño, iniciado em 2023. Em resposta, o governo federal criou uma sala de situação para coordenar ações de combate aos incêndios e à estiagem.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) anunciaram o destacamento de mais de 3 mil brigadistas para a temporada de fogo de 2024. Adicionalmente, o governo destinou R$ 405 milhões aos Corpos de Bombeiros da Amazônia Legal.
Desmatamento e áreas queimadas
Apesar da redução de 50% no desmatamento em 2023 comparado a 2022, a área queimada aumentou 36%, conforme o sistema Deter do Inpe. Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), ressalta que o governo concentrou esforços em 71 municípios prioritários, notando uma redução nas queimadas em áreas de pastagem e agricultura.
Contudo, florestas nativas no norte do Pará, Roraima e Amapá continuam sob ameaça do fogo. A seca iniciou-se mais cedo em 2024, com chuvas abaixo do esperado. O fenômeno La Niña, previsto para o segundo semestre, pode trazer algum alívio, mas sua intensidade permanece incerta.
As comunidades indígenas e ribeirinhas são particularmente afetadas, com a seca histórica dificultando o acesso a vilarejos isolados. Brigadistas voluntários, como os de Alter do Chão em Santarém (PA), preparam-se para outro ano desafiador após enfrentarem um aumento significativo de incêndios em 2023.
Com as previsões apontando para uma possível piora do cenário em 2024, a eficácia das medidas governamentais e a resiliência da maior floresta tropical do mundo serão postas à prova nos próximos meses.